Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:
Helton Yomura é suspeito em esquema de propina que negociava concessões de registros sindicais para sindicatos de empresários
O STF (Supremo Tribunal Federal) determinou o afastamento do ministro do Trabalho Helton Yomura (PTB-RJ) na última quinta-feira (5). A decisão veio a pedido da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República, e foi dada pelo ministro Edson Fachin.
Ambos os órgãos investigam um aparente esquema cobrança de propina e apoio político em troca de concessão de registros sindicais. É a operação Registro Espúrio. Como a concessão é feita exclusivamente pelo Ministério do Trabalho, Yomura é personagem central nas investigações, assim como o chefe de gabinete da pasta Júlio de Souza e o deputado federal Nelson Marquezelli (PTB-SP).
Diferente dos sindicatos de trabalhadores, essas são as organizações que representam formalmente os empresários de um determinado setor. Por exemplo, durante as negociações anuais de Convenção Coletiva dos radialistas, é com o sindicato patronal das empresas de Rádio e TV que os dirigentes do sindicato dos trabalhadores se sentam para reivindicar melhorias, reajustes salariais para toda a categoria etc.
É de se esperar que os sindicatos patronais façam aquilo que é determinado pelas empresas, assim como são os trabalhadores que devem decidir os rumos do nosso sindicato trabalhista. Também é fato que as maiores empresas do setor costumam ter mais força sobre o sindicato patronal do que as pequenas empresas. Em setores hiper-concentrados como o nosso, as maiores empresas podem controlar o sindicato patronal.
Dessa forma, assim como dominam o mercado, acumulam grande poder de pressão sobre as Convenções Coletivas e os direitos trabalhistas. As empresas confiam, participam e usam o seu sindicato, porque sabem seu poder; daí a importância dos trabalhadores também fazerem o mesmo para não serem manipulados.
Neste caso, o poder do dinheiro parece ter ultrapassado as fronteiras da lei. A Procuradoria-Geral da República afirma que todos os investigados são suspeitos de “utilizarem os cargos para viabilizar a atuação da organização criminosa”. Há alguns meses foi publicada na mídia uma reportagem que denunciava o pagamento de R$ 4 milhões de propina por um empresário ao Ministério do Trabalho para conseguir o registro de um sindicato patronal.
Yomura passou a manhã prestando depoimento na sede da Polícia Federal em Brasília. No final da tarde, pediu demissão do cargo.
Fachin decretou três prisões temporárias e dez mandados de busca e apreensão, além do afastamento de Yomura. O superintendente da pasta no Rio, Adriano José Lima Bernardo; Jonas Antunes Lima, assessor de Marquezelli e Júlio de Souza são procurados pela Polícia Federal para que cumpram a prisão temporária. A prisão temporária é uma medida cautelar, tomada em períodos de investigação, e dura cinco dias.
No gabinete de Marquezelli, a Polícia Federal encontrou uma mala com R$ 5 mil. O deputado federal negou qualquer envolvimento com o esquema para a imprensa.
Em depoimento à Polícia Federal, Yomura disse estar surpreso com a decisão do Supremo e negou envolvimento no esquema apontado pelas investigações. Ele também se negou a passar a senha de um celular dele apreendido pela polícia.
O PTB controla o Ministério do Trabalho desde que Temer virou presidente, em maio de 2016. Após o afastamento de Yomura, o presidente nacional do partido Roberto Jefferson colocou a pasta à disposição do presidente.
Yomura assumiu interinamente o Ministério do Trabalho em fevereiro de 2018, em meio às várias tentativas frustradas do presidente Michel Temer de nomear para o cargo a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ). Ela e o pai, Roberto Jefferson, que é presidente nacional do partido, são apontados pela Polícia Federal como padrinhos políticos de Yomura.
A nomeação foi barrada pelo Supremo Tribunal Federal em janeiro, após o G1 ter publicado uma reportagem revelando que Brasil foi condenada pela Justiça a pagar R$ 60 mil por dívidas trabalhistas com dois ex-funcionários. A reportagem desencadeou disputa judicial que durou cerca de um mês e impediu Temer de oficializar a parlamentar no cargo.
Brasil tinha sido indicada pelo próprio pai, Roberto Jefferson. Sem conseguir emplacar a deputada, Jefferson indicou então Yomura, que já trabalhava na pasta como secretário-executivo desde outubro de 2017.
Fonte: Ricardo Chapola 05 Jul 2018;
Nexo Jornal (atualizado 06/Jul 19h54)