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Não faz dez dias que um dos nomes mais influentes da mídia brasileira foi afastado do cargo de imediato após a viralização na web um vídeo em que ele se comporta de forma racista.
Quando um famoso solta uma frase do tipo “é coisa de preto”, a questão racial vêm à tona como um tsunami. Porém, pouco tempo depois, muita gente se esquece. Porque pra muita gente o racismo é uma atitude individual de discriminação, é uma espécie de “doença”, é o problema do Waack. E não é. O problema do racismo não é o problema do racista, e vai muito além da punição. O racismo é uma das bases da estrutura social brasileira, e deve ser combatido no dia-a-dia, e dentro de cada um de nós.
A igualdade é um horizonte, e não pode ser confundida com realidade. Os avanços não podem criar a ilusão de que estamos resolvidos, que hoje todos têm oportunidade porque alguns chegaram lá. E mesmo que o esforço faça diferença (e é claro que faz), o papo da “meritocracia” pode ter seu valor moral, mas ignora totalmente a história, a biologia, e a psicologia humana. Só assumindo nossos problemas é que podemos combatê-los e avançar.
O SinRadTV-RJ parabeniza de pé a coragem e dos radialistas Diego Rocha (operador de VT) e Robson Cordeiro (designer gráfico), responsáveis pelo vídeo que trouxe este debate à tona novamente. Atitudes como esta carregam o sentido mais profundo da frase que mais gostamos de repetir: só a luta te garante! Por isso defendemos sempre a ação direta, e o poder popular de pautar a comunicação, que mais uma vez, impõe sua força decisiva sobre o que merece estar em foco, e inaugura a agenda do mês da consciência negra.
Primeiro porque somos, sim, racistas. Esta frase engasga qualquer um, porque é algo que ninguém quer ser (ou assumir que é). Mas entender que nós, que nascemos e fomos criados em um país racista, somos parte dele, é fundamental para encarar o problema e não fugir de seus efeitos. Ataques, piadas, ou até mesmo a auto-depreciação de pessoas negras são algumas consequências que costumam ser ofuscadas por casos “mais explícitos” de discriminação.
O resultado do individualismo aqui, além da negação automática, é a insistência em combater a acusação valorizando qualidades pessoais do sujeito que age de forma racista – como na nota da Globo a respeito. “As credenciais de Waack deveriam ser levadas em conta como agravantes, não como atenuantes”, salienta a matéria de Ana Maria Gonçalves no Intercept Brasil. Quando confrontados com o vídeo, por outros repórteres, a resposta de ambos (Sotero e Waack) foi a mesma: que “nem se lembravam”, e que “não são racistas“. A lição mais preciosa deste caso talvez seja o quanto o cotidiano pode esconder o absurdo.
“Ele não foi repreendido depois. Ali estava cheio de gente, tinha coordenador, diretor de imagem, o próprio entrevistado poderia ter reclamado da ‘piadinha’”, afirma Diego.
Ninguém reclama nem pune, afinal é “apenas” uma piada que poderia ter sido dita pelo seu tio. É verdade. E aí é que está o grande desafio: como combater o racismo quando é reproduzido por quem você ama, no dia-a-dia, por vezes sem perceber e sem ter noção do peso de suas palavras e atitudes? É fácil se revoltar contra quem não amamos, nem nunca simpatizamos muito. Este é o motor das guerras. É fácil ter lado. Difícil é seguir princípios. Respirar fundo no ambiente de trabalho ou no almoço de família, e advertir: “hei amigo, não diga isso nunca, pense bem porquê você fez isto, porque não é inofensiva esta atitude.” Até para alguém como Sotero, estudado, bem sucedido e seguro, é mais fácil rir junto que encarar uma luta dessas.
Não podemos nos contentar com o que é fácil, é daí que vem o fascismo. Com a mesma garra que tem todo trabalhador para sustentar sua família a cada dia com o suor de seu esforço, é preciso que você, eles, e cada um de nós tenhamos a força e a coragem de Diego e Robson, de Maju, Lázaro e Taís, e de tantos milhões de outros, de enfrentar esta batalha no coração de nós mesmos todo dia.